22/07/07

"as idades do Homen"

A metamorfose do mito versus o mito da metamorfose. Não é um jogo de palavras; as detalhadas transformações descritas por Publius Ovidius Naso em quinze livros escritos entre os anos 2 e 8 d.C falam-nos duma constante mudança de matéria, tempo e espaço que explica literariamente o presente do Homem e a sua realidade em função dum passado em permanente modelação, a criação mitológica do mundo. O exemplo que nos oferece uma melhor metáfora para visualizar este processo é a do barro. A terra que pisamos amassada com as mãos para ser sublimada sob o fogo em formas novas, frágeis, cambiantes e nunca definitivas. De facto é o único testemunho que nos lega a tradição em estreita aliança com o acaso. Qualquer pedaço de ânfora que nos resgate o arqueólogo de turno será tão fragmentário como definitivo em relação a um passado que nos oferece uma visão esquiva, inexacta, fabulada e mentirosa da nossa própria realidade não conhecida. Ovideo assiste ao nascimento de uma evolução literária que se ampara explicitamente dentro do quadro de uma concepção global do mundo. É o nosso passado o que nos narra Ovideo com a redução da história da origem da humanidade a quatro idades de quatro naturezas diferentes, como o são o ouro, a prata, o bronze e o ferro. As quatro descrições trabalhadas num decrescendo dramático dão-nos o exemplo duma narração modelada, enfornada, cristalizada, fragmentada e reduzida à mínima expressão, como quatro sinédoques duma só e equívoca realidade. As quatro somos nós, a sociedade multicultural voltada para a globalização forçada à convivência, quatro mundos em equidistância cega sobre a areia do tempo. Todas elas vivem sobre a terra como legado fragmentado extraído do esquecimento da história, todas elas convivem e se relevam em eloquência, se erguem como chaminés que conduziram o fogo de outro tempo. As quatro idades levam escritas as palavras que são a origem do mito por mão de Ovideo e as tradições que soube recompilar. A mesma palavra o diz: as metamorfoses permanecem abertas ao tributo de sempre renovadas leituras. Realidade, racionalidade, mito, literatura ou barro, são matéria prima conscientemente indiferenciada. Da negritude de um mundo esquecido viaja e chega até nós o testemunho encapsulado de quatro civilizações que foram e são todavia a nossa, assim como o testemunho gravado em ouro da nossa moderníssima civilização actual; viaja nestes momentos no meio da escuridão do cosmos até aos contornos de Alfa Centauro. Outros nos desencriptarão.


joaquim, marisa e marc, estão presentes na bienal d'arte vez 2007 com a instalação cerâmica "as idades do Homem" inspirada no poema metamorphoseon de Publius Ovidius Nason; poeta latino nascido em 43 a.C




D’ART VEZ - Casa das Artes-Arcos de Valdevez
Bienal de Artes; colectiva.

21 de Julho a 26 de Agosto 2007; dias úteis: 10-18h00, sábados: 14-18h00 e 21h30-23h00,domingos: 21h30-23h00.


A espelho de anos anteriores, o Município Arcuense e o Espaço Queiroza levam a efeito mais uma edição da D’Art Vez, mostra colectiva que coloca em Arcos de Valdevez nomes e projectos de referência nacional e europeia.


actividades paralelas:
distinção de novos académicos, pela ACADEMIA INTERNACIONAL "CITTÁ DI ROMA"(ITALIA)
a referida academia com representação em portugal e sedeada em arcos de valdevez, distinguiu com o grau de "académico", todos os artistas convidados a participar nesta bienal.