








video de joana borges
"114
ESCULTURAS DE FOGO"é um projecto germinado no espaço de criações
artísticas dos ceramistas Marisa Alves e Joaquim Pombal o:
Centoecatorze.
Como
artistas que trabalham a cerâmica de forma monumental em eventos de
Land Arte “in Situ,” ao longo das inúmeras iniciativas em que
participaram, desenvolveram o processo de cozedura das suas obras de tal
forma que o acto de abertura do forno incandescente se tornou numa
performance de fogo. Pelo fascínio que uma imensa escultura em brasa e
ao rubro, pelo calor que emana numa noite escura e pela surpresa que
suscita ao espectador o desvendar apoteótico da abertura do forno que
envolve a própria obra, foi surgindo no processo criativo cada vez mais a
ideia que uma construção desta envergadura se transformasse num
espectáculo. Tendo já os autores trabalhado em parceria com artistas de
diversas áreas do espectáculo em eventos culturais organizados pelo
centoecatorze, surge a ideia inovadora e pioneira de juntar a escultura a
um espectáculo multidisciplinar, único no nosso país no domínio da arte
performativa.
Na
base deste espectáculo está a construção de uma escultura monumental em
cerâmica que tem forçosamente que ser cozida no local. Tendo em conta
os conhecimentos dos autores nas técnicas ancestrais de cozedura é com
várias toneladas de lenha que o fogo é alimentado durante 72 horas No
Stop até á apoteose final. Mas um mês antes começa o processo de escolha
do local e construção e modelação das várias toneladas de barro cru,
com o que tudo envolve desde a mais pequena ferramenta até aos andaimes e
tenda que envolvem a escultura e que vão fazer parte da performance.
Uma estrutura desta dimensão é apelativa à curiosidade de quem passa e
surge aí a primeira oportunidade de interagir com o publico tendo este
oportunidade de participar “mexendo no barro”. É interessante o
acompanhamento das pessoas frequentadoras do local que normalmente
passam para ver os desenvolvimentos diários na construção e aí se
estabelecem diálogos e convites a assistir á performance final. Das
experiências anteriores os autores tem boas recordações ao mostrarem o
processo criativo que normalmente é intimo e resguardado por paredes de
um atelier e aqui é publico e participativo. Mas como é evidente existe
um grupo de trabalho, de várias nacionalidades, o mais heterogéneo
possível de artistas convidados, para ajudar construir e esculpir o
enorme bloco. Durante todo o processo que vai desde as
fundações, montagem de tenda de trabalho, andaimes, construção de
fornalhas, edificação da escultura, secagem, feitura do forno e
incluindo a cozedura,
todo o processo é acompanhado pelas câmaras de vídeo que vão dar origem
a um trabalho artístico que faz parte da projecção multimédia durante o
espectáculo.
Finalizada
a escultura e estando seca a obra começa a construção de um forno no
local que agora vai esconder e resguardar a obra dos olhares curiosos.
Depois de estar pronto, este elemento que também participa como objecto cénico durante a
performance, o fogo que é ateado noite e dia ininterruptamente durante 3
dias até a escultura acumular calor suficiente para que o material
cerâmico esteja cozido e assim proporcionar a abertura
incandescente. Com a presença do fogo e da lenha gera-se um ambiente
ancestral quase neolítico, que atrai ainda mais visitantes ansiosos de
ver o resultado final. No ultimo dia ao final da tarde começará a ser
apresentada a projecção multimédia já com musica original composta pelos
músicos convidados, enquanto ainda o grupo de trabalho da escultura
estará a laborar arduamente para manter o fogo sempre ao rubro. Mal cai
a noite surgem as primeiras chamas a sair pela parte superior da
escultura e a própria manta térmica que envolve a escultura deixa passar
luminescência que se pode ver a chama dentro do forno. Aqui já existe
um grande numero de pessoas que sobem e descem andaimes, transportam
lenha, que alimentam o fogo, que retiram as excedentes brasas e a
performance começa com entrada dos músicos que alimentam todo este
movimento, a projecção continua agora com musica ao vivo e que
seguidamente são acompanhados pelos bailarinos e artistas circenses
interagindo com toda a equipe de domadores de fogo. Chegados ao grande
momento que é a abertura da manta térmica a projecção será em directo, e todo o
esplendor do fogo é captado por uma grua que consegue visualizar a parte
superior da escultura, menos visível ao publico ao nível do chão.
Seguindo a performance por alguns minutos mais com musica, dança, arte
circense e exercícios dos domadores de fogo com materiais inflamáveis ao redor da
escultura.
A ESCULTURA DE FOGO é assim o espaço de acolhimento e intervenção
às áreas artísticas de palco, que tem a oportunidade de partilhar
espaços não convencionais, e utilizar objectos cénicos invulgares,
como ferramentas e andaimes da construção da escultura, como máquinas de
cena. A conciliação e a inclusão destes meios participam no âmbito da
criação inicial, tendo um papel de despertar inspiração.
A ESCULTURA DE FOGO é assim a proposta canalizadora em relação a todas as áreas apresentadas sendo um laboratório interdisciplinar vocacionado e estimulando a criatividade e imaginação dos participantes do projecto.
Este é um espectáculo dirigido a comunidades especificas, onde o
tema da escultura, a forma e as linguagens trabalhadas na performance
são especificas para cada apresentação. Abre-se assim um espaço à
criação de contacto directo entre as acções performativas e o
público.Música original ao vivo criada para a performance, bailarinos e
domadores de fogo circulam por entre objectos estranhos e
incandescentes, projecções multimédia que se inspiram no acto criativo
da própria construção e apresenta também a grande surpresa - Projectar o
topo superior da forma escultórica incandescente.
Acção e movimento, fogo e incandescência da própria peça com
abertura da capa envolvente de que poderemos chamar de forno, são o
auge e o culminar da performance acompanhada por ritmo de sons
ancestrais e pelo crepitar da madeira a arder, levando a comunidade
presente a partilhar afectos e emoções, e estimulando
a interactividade e o seu imaginário. Esta abertura é
a possibilidade de vislumbrar uma transformação escondida por paredes ao
rubro e surpreender pelo calor, emprestando originalidade ao evento. É
sem dúvida um acontecimento único na área performance escultorica,
agregando o acto de construir ao espectáculo cénico articulado.
"114 esculturas de
fogo" criam uma inquietude perante o fogo que é ao mesmo tempo, motor
para desenvolver intensidade dramática e aliar a invulgar acção de
esculpir e o acto de cozer o enorme bloco de barro em público, para
combinar o encanto e prazer de admirar o fogo.